segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O poder do nome


 Por que nomear as coisas? As pessoas? Os locais?

Um nome consegue dar uma identificação e, mais do que isso, consegue enfatizar a  dimensão física de uma coisa ou de um ser. Isso com apenas uma ou mais  palavras.

Um nome, através de sua significação, dá vida  e transforma o objeto em um símbolo dinâmico, pleno de possibilidades interpretativas.

Mas há unanimidade quanto a essa questão ?

Iniciamos nossa reflexão lembrando Platão (428-347 AC) que descreve em seus Diálogos uma conversa entre Crátilo e Hermógenes.  O primeiro diz que o segundo não deveria se chamar Hermógenes pois essa palavra significa "filho de Hermes" e para fazer jus a esse nome, ele deveria ser uma pessoa rica e não estar em dificuldades financeiras, como era o caso do personagem.  Já Hermógenes, no diálogo, responde que os nomes não têm nenhuma relação com as coisas e são completamente arbitrários, podendo ser mudados segundo a vontade de cada um. Sua posição é convencional enquanto Crátilo defende a posição naturalista que considera que a cada coisa corresponde um nome e que conhecer esse nome significa entender o que a coisa é.

Essa discussão que passou por muitos outros filósofos, esconde uma secreta relação entre as palavras e as coisas: seria a linguagem  um mero  veículo de expressão entre objetos e ideias, ou as palavras carregariam a essência daquilo que representam?

Ideias, emoções, sentimentos, ações, poderiam ter sua essência representada em palavras? Não sabemos.

Mas os objetos sim, podem ser nomeados. Podem expressar através de seus nomes conceitos e impressões além de permitir a representação da ordem das coisas.

O nome comunica, representa, sugere, identifica. E, talvez carregue em si o poder da transmutação.

E, já que estamos fazendo Arte, podemos ficar com a posição do poeta moçambicano Mia Couto:

“O que o poeta faz é mais do que dar nome às coisas.
O que ele faz é converter as coisas em aparência pura.
O que o poeta faz é iluminar as coisas.”





                                                                       Re-flor-estar
                                                         Cerâmicas . Arita. Japãp, 2006

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