domingo, 13 de março de 2016

Deglutir o que?

 Deglutição 

Ato de engolir; ação automática comandada pelo tronco cerebral; serve para transportar o alimento na fase inicial da digestão.

É um processo, ao mesmo tempo, voluntário e involuntário.  
Alimentos colocados na parte final da faringe   são deglutidos  involuntariamente. Literalmente,  irão  “goela abaixo”.


O que estamos tendo que engolir? Sapos? Insetos? Cacos?

quarta-feira, 2 de março de 2016

Arte-filosofando em breve ensaio

  (Ensaio publicado  na revista digital Babel Cultural em janeiro de 2016)

 “... a vida é, de um lado, anseio de ser e, de outro lado, temor do nada. Essa é a angústia. Pois o nada  amedronta o homem.”
García Morente.


Em nossa existência temos apenas uma certeza : a de nossa finitude. E a inquietação com o sentido da vida nos torna entes peculiares cuja  propriedade mais estranha  é a de  termos consciência do resto das coisas e de fazermos parte delas .
Seres humanos,  desde  cedo apresentamos nossos relatos, questionamentos, anseios e faltas.                                               

Quando vivíamos submissos às leis da Natureza e buscávamos abrigo nas cavernas fixamos nossa necessidade de expressão pintando cenas marcantes nas paredes. Assim surgiram os mais excitantes e primitivos museus  de Arte da humanidade.
Nossa  idéia de SER veio sofrendo enormes e essenciais transformações no decorrer da História e filósofos  e artistas até hoje tentam explicar esse processo.
Sabe-se que para enfrentar essa jornada  é preciso ir ao âmago das questões , chegar à essência da alma  que para Sócrates era a sede da razão - o eu-consciente moral, intelectual e sensível fazendo-se distinto de todos os outros seres da natureza.
A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma e que para tomar posse de si mesmo precisa tornar-se dono de si pelo saber.
Já Santo Agostinho interpreta essa inquietação humana como sendo a necessidade de encontro com a  figura divina. O homem que não entra em contato com Deus seria, em sua visão, inacabado, incompleto, vazio. Em contrapartida, aquele que entra e compartilha do divino torna-se iluminado, completo, descobrindo a verdadeira felicidade.
Com as ciências e os anseios de liberdade  de  Voltaire a Rousseau e a  Kant,  surge a ênfase nas idéias de progresso e perfeição  humanas, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais. O Iluminismo vem como  uma atitude geral de pensamento e ação, buscando um  mundo melhor pela  introspecção e engajamento político-social. Nasce o homem moderno.
Seguindo, encontramos o pessimismo de Schopenhauer dizendo que  apenas pela arte e pelo abandono de si, o homem poderia se libertar da dor; Kierkegaard  considerando  que tanto é possível a dor como o prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio, no entanto enfatizando a eterna insatisfação humana onde a relação do homem com Deus seria talvez a única via para a superação da angústia e do desespero marcada pelo paradoxo de ter de compreender pela fé o que é incompreensível pela razão.
Husserl, Heidegger, Sartre, Ortega y Gasset analizam a seu modo como onde e porquê o homem não assume a sua própria cura, se perde e se aliena já que  o ser autêntico exige o mergulho na angústia do Nada.


Ao ter seus anseios de liberdade o homem torna-se responsável por tudo quanto fizer e sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a reinventar-se constantemente.
Aqui  trazemos a vida para o agora : a vida humana é sempre minha, a de cada qual, a de cada um de nós. É individual, pessoal e consiste no eu que se encontra numa circunstância no mundo, sem ter a certeza de existir no instante imediatamente posterior e tendo sempre que estar fazendo algo para garantir essa existência.
A ação humana supõe então um sujeito responsável, e a vida é, por essência, solidão.
Entender o vazio existencial numa perspectiva histórico-filosófica nos
permite ter um panorama geral  amplo e abrangente que abarca diversas linhas de pensamentos dos mais diversos autores e filósofos.
Compreender esse apanhado histórico significa tomar posse dos conhecimentos, teorias e visões que influenciaram e influenciam o que hoje entendemos sobre o tema. E a Arte nos possibilita, agora, empreender uma jornada de identificação do vazio existencial no momento atual, observando as implicações no nosso cotidiano, no sentido de nossa existência e nas nossas vidas como um todo.

Ilustrações : Pinturas rupestres Serra da Capivara
                    "O Nada de Cordélia" Encáustica sobre linho 2015.