Por que nomear as coisas? As pessoas? Os
locais?
Um
nome consegue dar uma identificação e, mais do que isso, consegue enfatizar a dimensão física de uma coisa ou de um ser. Isso
com apenas uma ou mais palavras.
Um
nome, através de sua significação, dá vida
e transforma o objeto em um símbolo dinâmico, pleno de possibilidades
interpretativas.
Mas
há unanimidade quanto a essa questão ?
Iniciamos
nossa reflexão lembrando Platão (428-347 AC) que descreve em seus Diálogos uma
conversa entre Crátilo e Hermógenes. O
primeiro diz que o segundo não deveria se chamar Hermógenes pois essa palavra significa
"filho de Hermes" e para fazer jus a esse nome, ele deveria ser uma
pessoa rica e não estar em dificuldades financeiras, como era o caso do
personagem. Já Hermógenes, no diálogo, responde
que os nomes não têm nenhuma relação com as coisas e são completamente
arbitrários, podendo ser mudados segundo a vontade de cada um. Sua posição é
convencional enquanto Crátilo defende a posição naturalista que considera que a
cada coisa corresponde um nome e que conhecer esse nome significa entender o
que a coisa é.
Essa
discussão que passou por muitos outros filósofos, esconde uma secreta relação
entre as palavras e as coisas: seria a linguagem um mero
veículo de expressão entre objetos e ideias, ou as palavras carregariam
a essência daquilo que representam?
Ideias,
emoções, sentimentos, ações, poderiam ter sua essência representada em
palavras? Não sabemos.
Mas
os objetos sim, podem ser nomeados. Podem expressar através de seus nomes
conceitos e impressões além de permitir a representação da ordem das coisas.
O
nome comunica, representa, sugere, identifica. E, talvez carregue em si o poder
da transmutação.
E,
já que estamos fazendo Arte, podemos ficar com a posição do poeta moçambicano
Mia Couto:
“O que o poeta faz
é mais do que dar nome às coisas.
O que ele faz é
converter as coisas em aparência pura.
O que o poeta faz é
iluminar as coisas.”
Re-flor-estar
Cerâmicas . Arita. Japãp, 2006